Partindo do pressuposto de que o corpo é, ao mesmo tempo, produto de uma construção social e de uma construção dele mesmo, podemos compreender a cirurgia plástica como uma forma de o indivíduo forjar, por meio de suas transformações corporais, novos contornos para a construção de sua imagem corporal.
No mundo de hoje é mais do que comum a mulher sonhar em mudanças corporais, tanto que a prática de cirurgia plástica já virou moda. E, o que a moda representa? Representa uma forma de imitação do sujeito contemporâneo. Define-se como a imitação que o sujeito faz do seu semelhante, aquele com quem estabelece laços sociais, afinidades ideológicas e desejos em comum. Então, o que é novo é belo.
No início do século XX a cirurgia plástica consagra-se como uma garantia de higiene física e mental para os pacientes. Nota-se, portanto, que ideais estéticos e morais caminham juntos.
Dentro da perfeita lógica capitalista, tudo tem valor como bem, quando atribui valor de capital ao corpo. Nessa mesma linha de pensamento, dá status e atribui valor de troca aos belos corpos da sociedade de consumo.
Quais seriam, então, as demandas contemporâneas? Que imagem de corpo é exaltada na cultura vigente? O status do corpo é adquirido através de sua jovialidade (eternização da juventude), de sua beleza, da aparência de felicidade, de seu poder de atração sexual e, finalmente a tentativa desenfreada em retardar os efeitos do envelhecimento.
A imagem do belo corpo traduz o anseio atual. Quer seja esculpido nas academias de ginástica ou remodelados e formatados em clínicas particulares e hospitais, transformar o corpo está na ordem do dia.
O "corpo marcado" correspondente às tecnologias da moda, da cosmética e da cirurgia plástica, revela que o corpo é um signo cultural. Com efeito, o corpo que é "natural", quando transformado, torna-se um signo cultural.
Portanto, quer seja por meio de roupas, adereços e cosméticos ou de uma cirurgia plástica, o corpo é sempre transformado em um signo cultural.
Vale dizer que, em suas clínicas particulares, os cirurgiões plásticos fazem amplo uso de tecnologias visuais objetivando estimular os pacientes a realizarem as cirurgias. O paciente vê quais as medidas ideais e as modificações corporais necessárias na busca de um resultado mais harmonioso.
O resultado é virtual, mas transmite ao sujeito a idéia de que o procedimento cirúrgico é muito simples de ser feito. Entretanto, na prática, os procedimentos são "de carne e osso". Na cirurgia plástica, o corpo humano não é apenas um lugar virtual de construção de imagens, mas um lugar material em que o corpo é tecnologicamente cortado e reconstruído, de acordo com padrões ideológicos da aparência física.
O uso da cirurgia plástica parece contribuir para a realização do ideal do individualismo moderno. Essa especialidade médica ajuda o sujeito a certificar o sonho se torna realidade.
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