Com relação a violência contra a mulher, na maioria dos casos a violência é praticada pelo marido, companheiro ou namorado da vítima. Outra característica observada é o fato de a mulher frequentemente se reconciliar com seu agressor passado algum tempo do encaminhamento do caso à polícia.
Os padrões de comportamento do homem e da mulher descritos acima são alvos de críticas duras. A revolta em relação à violência contra a mulher é dirigida não apenas ao agressor, mas também à vítima, acusada de manter uma submissão injustificável.
Esse tipo de crítica, dirigido tanto à vítima quanto ao agressor _ esse fenômeno é generalizado, é preciso encontrar suas razões em um espaço que está além do relacionamento das pessoas envolvidas. É preciso pensar no assunto, procurar as raízes sociais e culturais no fato de tantas mulheres não reagirem diante da violência e de tantos homens assumirem a posição de agressores. Retirar esse tipo de tema dos limites de uma relação conjugal significa trazê-lo para um espaço ao qual pertencemos. Dessa forma, a violência doméstica deixa de ser um assunto em que "não se mete a colher" para tornar-se um tema que exige um posicionamento de cada participante social.
Se, na maioria das vezes, a violência contra a mulher envolve pessoas ligadas por vínculos afetivos, a análise dos papéis sociais dos sujeitos envolvidos nesse tipo de violência requer uma reflexão sobre a relação amorosa.
Uma possível resposta a essa questão está na relação entre capacidade de resistência e auto-estima.
É claro que o movimento feminista promoveu mudanças relevantes no sentido de reverter esse quadro. Com muito esforço, as mulheres conseguiram se integrar a campos que já foram exclusivamente masculinos, como a política e o mercado de trabalho. No entanto, ainda existem valores que inferiorizam a mulher. Em parte isso se deve à sobrevivência ainda significativa da cultura machista tradicional, há décadas combatida pelo movimento feminista.
Para se valorizar, a mulher precisou migrar para o espaço valorizado, o espaço tradicionalmente masculino.
O movimento emancipatório feminino, enfim, se voltou para a inserção ou para a possibilidade de inserção da mulher no espaço considerado masculino. Não houve, porém, um movimento de integração do homem ao espaço familiar, condição essencial para que a relação de ambos se estabelecesse de forma igual.
Sem o compartilhamento do espaço doméstico, a mulher acumulou diversas atividades e não conseguiu com isso consolidar sua emancipação. A dificuldade em conciliar carreira e filhos é muito maior para elas do que para eles; enfim, ascender ao espaço social e público ainda hoje implica para a mulher um significado em função do acúmulo de papéis e da dificuldade, ou impossibilidade, de obter sucesso em todos eles.
De outro lado, a ascensão da mulher ao espaço público e social confunde o lado masculino. No entanto, a recorrente prática da violência doméstica demonstra que o homem ainda se considera o centro de poder na relação conjugal, e isso traz consequências negativas não apenas para as mulheres, mas também para os próprios homens. Não é à toa que o desemprego é um frequente desencadeador do conflito doméstico, inclusive da agressão contra a mulher. O homem desempregado, que fica em casa enquanto a mulher sai para trabalhar, sente-se muito mais humilhado do que uma mulher na mesma situação. Sua sensação é de inutilidade, sua auto-estima é de fracassado, pois seu valor está condicionado ao sucesso que seja capaz de obter no espaço público e social. Com relação as mulheres de hoje, essas cobranças também começaram a recair sobre elas.
Conclusão, as mudanças na estrutura social da família ainda não foram suficientemente profundas a ponto de consolidar uma relação equilibrada entre homens e mulheres. Uma relação de gênero igual pode ser libertadora tanto para mulheres quanto para homens, à medida que flexibiliza as limitações impostas por uma rígida atribuição de funções familiares.
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