A lógica consumista contribui para que um certo conjunto de atitudes perceptivas e comportamentais, ligadas à estética, conviva, simultaneamente, com ideologias. Uma boa expressão disso são as representações de masculino e feminino que, apesar das conquistas e transformações sofridas, possuem um referencial tradicional.
O fato de, na atualidade, o embelezamento do homem ainda tender à associação de sua imagem com a idéia de status econômico e social é uma boa ilustração do que mencionamos. O elogio à estética masculina são reforçadas em termos de prestígio profissional.
Há uma preocupação crescente em produzir um físico atlético e erotizado, no universo masculino, a vaidade masculina.
A questão da aparência na atualidade, o aval da sociedade talvez explique porque, nos homens, as preocupações com a má aparência são mais sutis. Basta observarmos com atenção e constataremos que a sociedade mostra-se mais tolerante com a feiúra masculina. Enquanto, no universo masculino o desvio com relação ao padrão de beleza está vinculado à falta de tempo, em função do ritmo atribulado da vida profissional, para as mulheres, não cultivar a beleza é falta de vaidade.
Vimos que tanto a valoração como a sedução da imagem masculina, dá-se a partir de conquistas sociais e econômicas.
O embelezamento feminino, entretanto, está fortemente ancorado na utilização de inúmeros artifícios.
A beleza masculina é associada a traços agressivos e exagerados _ vistos como sinônimos de virilidade; como parâmetros de beleza masculina temos alguns exemplos, trazendo seus traços mais significativos: sobrancelhas cerradas, membros avantajados, etc.
Já a construção de uma bela imagem feminina é determinada ao consumo dos tratamentos voltados para essa área. Nas mulheres, a beleza vem na forma de trabalho sobre o corpo _ ser bela cansa e dói. Portanto, o ganhar dinheiro parece que vem em segundo plano, porque é estar em forma: seca, sarada, definida, que prevalece à escolha. Nas mulheres, os qualitativos estéticos estão intimamente ligados à sua identidade sexual. A falta de esforço e de cuidados com a aparência leva à perda dessa identidade. A feiúra adquire um peso dramático na estética feminina.
A beleza da mulher deve ser apreciada nos detalhes, um mero descuido, um simples desleixo e pronto, já é suficiente para a feiúra nela aparecer. Um simples descascado no esmalte, uma maquiagem fora do tom, uma depilação por fazer, o uso de uma roupa fora das últimas tendências da moda ou uma raiz mal feita já são aspectos suficientes para surgirem críticas à sua imagem.
Objeto de maior regulação social, o corpo feminino é, por conseguinte, contido ao máximo em suas ações. Como fruto disso, espera-se que todo esse conceito resulte, simultaneamente, em uma corporalidade delicada, um comportamento polido e um gestual estudado minuciosamente em seus movimentos.
Embora não possamos desconsiderar a existência de um mercado crescente voltado para à população masculina nas práticas ditas de embelezamento corporal, ainda é no imaginário popular, uma visão preconceituosa que encara os cuidados excessivos com a aparência como uma prática gay.
Nota-se que fenômenos opostos ocorrem entre os dois gêneros. Enquanto para os homens os cuidados com a estética corporal não devem ser demonstrados em excesso, a fim de que não haja nenhuma confusão na imagem corporal que deseja emitir, nas mulheres, os qualitativos estéticos estão intimamente ligados à sua identidade sexual. Não é uma afirmação! É apenas, um ponto de vista. O impacto que a feiúra tem sobre a imagem de uma mulher é justificado pelo discurso que diz que a feia é menos feminina.
Estar magra é positivado em qualquer contexto, discurso ou meio de sociabilidade. Estar magra é o melhor capital, portanto, a melhor forma de inclusão social. Ser magra, nos dias atuais, é um adjetivo da beleza. Esta última, por sua vez, reforça e condiciona a feminilidade.
Batalhar para ser bela põe uma mulher em pé de igualdade com as outras, a faz sentir-se em condições de competir, aumenta a sua auto-estima e o seu poder de sedução. Uma vez segura da sua beleza e de seus dotes, está preparada para eliminar a concorrência!
Entretanto, o corpo ideal não diz respeito somente ao controle do peso e das medidas, revela também funções psicológicas e morais. A feiúra caracteriza, uma ruptura estética e psíquica, da qual decorre a perda da auto-estima. Vale lembrar que a dimensão ética é também rompida, pois se deixar feia é interpretado como má conduta pessoal, podendo resultar na exclusão do grupo social. Portanto, mudar seu corpo é mudar sua vida, e as intervenções estéticas decorrentes desse processo traduzem-se em gratificações sociais.
Visto assim, o terror que se abate sobre a feiúra traz uma série de prejuízos sociais, físicos e psicológicos. O feio vive uma tensão constante entre o constrangimento psicológico e as exigências estéticas, tendo a própria anatomia como seu pior algoz.
Com a maior exposição do corpo, as atenções sobre a PELE intensificam-se, assim como a rotina de cuidados com a aparência física. As mulheres lutam contra a ação do tempo, tentando manter-se sempre jovens e belas. Consumidoras de cosméticos da melhor qualidade, lutam para retardar o envelhecimento e manter sua beleza.
Como todo culto, como toda moda, o impacto da moda do culto ao corpo sobre a sociedade só pode ser detectado a partir da compreensão da maneira, como conceitos são interpretados pelos indivíduos que, no interior de diferentes grupos sociais, lhes emprestam significados próprios.
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